País dividido

Ordem constitucional é restaurada na Venezuela

14 de abril de 2002, 8h52

O polêmico presidente da Venezuela, Hugo Chávez Frías, foi reconduzido ao poder por militares fiéis a seu governo, na madrugada deste domingo (14/4).

Uma multidão que defendia a volta do presidente eleito se aglomerava à volta do palácio do governo, gritando seu nome. Os milhares de manifestantes pró-Chavez cantaram o hino nacional venezuelano ao saber de seu retorno.

Horas antes, o vice-presidente Diosdado Cabello havia forçado a renúncia de Pedro Carmona, principal líder empresarial do país que assumira o poder com apoio de parte das forças armadas.

“A ordem constitucional está sendo restaurada neste momento”, afirmou Cabello, ao anunciar que a um decreto reempossando Chávez. Já no Palácio de Miraflores, Chávez disse que seu retorno ao poder “é a prova de que o povo venezuelano ama a democracia acima de tudo”.

Chávez conclamou todas as forças políticas, o povo, militares, líderes de partidos, empresários, e os donos dos meios de comunicação de todo o país a refletir sobre as questões prementes da Venezuela. “Todos cometemos erros, mas todos podemos consertá-los”, disse, itindo que há muitas coisas a retificar.

No longo discurso que fez ao reassumir a Presidência, Chávez anunciou a criação de um Conselho Federal de Governo, que será o núcleo de uma comissão, formada por representantes de todos os setores da vida nacional, para dar impulso a avanços da vida política e econômica nacional e internacional. Este Conselho será instalado na próxima quinta-feira (18/4).

Chávez foi recebido pelo ministro do Interior e Justiça, Ramón Rodríguez Chacín, por vários de seus ministros e por congressistas. Foi a primeira vez que Chávez apareceu em público desde sexta-feira, quando foi deposto. As cenas de seu retorno foram exibidas em cadeia nacional de TV.

Aparentando um bom aspecto físico, ainda que com alguma dificuldade para caminhar, e trajando roupas civis, uma jaqueta azul e sem sua indefectível boina vermelha, Chávez negou ter assinado uma carta de renúncia, como chegou a ser divulgado no período em que ele esteve afastado do poder. O presidente reempossado negou também que tenha sido maltratado durante sua curta detenção, e se preocupou em destacar a relação cordial que manteve com “os soldados” que o detiveram nas cinco instalações militares pelas quais ou desde a madrugada da sexta-feira.

O presidente venezuelano exaltou o respeito à Constituição, falou em unidade, em esperança, disse conhecer profundamente o povo venezuelano e elogiou sua coragem de exigir a volta da legalidade e da democracia. Pediu à polícia que não reprima o povo. Afirmou não ter ódio no coração, não querer vingança, mas disse ser necessário tomar algumas medidas contra os líderes golpistas, sempre respeitando a Constituição e os direitos humanos.

Pedro Carmona, que renunciou há pouco à Presidência interina da Venezuela, todos os membros de seu gabinete ministerial e os chefes do Estado-Maior das Forças Armadas ligados a ele foram detidos momentos depois de sua renúncia neste sábado, segundo Rafael Vargas, ministro da Secretaria da Presidência.

Pouco antes, o general Lucas Rincon reassumiu como chefe das Forças Armadas da Venezuela, segundo anunciou esta noite o ministro da Defesa do presidente provisório demissionário Pedro Carmona, Hector Ramirez.

Reações

O presidente Fernando Henrique Cardoso, até onde se sabe, não fez qualquer comentário sobre a derrubada de Chávez. Já o pré-candidato do PPS à Presidência da República, Ciro Gomes, classificou o movimento militar como “golpe de Estado”.

“Derrubaram o presidente da República da mais estável democracia da América Latina e a maioria dos supostos democratas está calada”, disse Ciro, ressaltando o fato de que foram dissolvidos o Legislativo e o Judiciário.

O presidenciável ainda questionou o fato de Carmona ter declarado que só iria convocar eleições para daqui a um ano.

O presidente da Argentina, Eduardo Duhalde, afirmou que o novo governo venezuelano estava agindo como uma ditadura. “Dissolver o Congresso, ao estilo [do ex-presidente peruano Alberto” Fujimori e convocar eleições não em 30 dias, como determina a Constituição, mas em um ano, é típico de uma ditadura.”

O ministro da Energia do presidente deposto Hugo Chávez, Alvaro Silva Calderón, por sua vez, anunciou que o governo de transição do presidente interino Pedro Carmona, que renunciou no sábado, queria tirar a Venezuela da Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), e que o temor de que isso ocorresse fez com que o preço do petróleo caísse.

“Era esse o plano desse grupo, de que nós não façamos parte da Organização dos Estados Exportadores de Petróleo e de produzir a quantidade que bem entender, não importando as consequências, e assim fazer com que o preço caia”, disse Calderón.

“Esta situação da crise (o golpe de Estado contra Chávez) influiu, porque talvez os mercados pensaram que a Venezuela abandonaria seus compromissos com a Opep, abastecendo o mercado com mais volume (de petróleo).

“Esperamos que amanhã (domingo) se recupere a tendência de consolidação dos preços de petróleo que vinha sendo observada” nos mercados. A Venezuela é o único membro latino-americano da Opep, produz diariamente 2,43 milhões de barris diários.

Saiba mais sobre Hugo Chávez.

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