Iniciativa propõe novo olhar sobre o desenvolvimento infantil
29 de junho de 2020, 18h44
Cada criança é única e para garantir seu desenvolvimento adequado é preciso investir em processos contínuos, intencionais e integrados, que reforcem a sua aprendizagem. Essa é a base do projeto Novo Olhar, conduzido pela Fundação Feac, de Campinas, e que conquistou o segundo lugar, na categoria Sociedade Civil Organizada, na premiação de boas práticas voltadas para crianças na primeira infância realizada pelo Conselho Nacional de Justiça.

A iniciativa estimula as instituições parceiras, que atendem crianças de 0 a 3 anos, a monitorar o desenvolvimento infantil para garantir que todas se desenvolvam adequadamente de acordo com sua faixa etária, considerando peculiaridades e limites.
Esse acompanhamento é feito por meio do preenchimento de fichas que permitem a análise do desenvolvimento individual da criança. A partir da verificação de lacunas, professores e familiares podem buscar e encontrar soluções que agreguem benefícios para a criança. Mudanças simples, como o ajuste do horário da alimentação ou a aproximação entre a criança e a professora, por exemplo, podem ser suficientes para suprir uma carência no desenvolvimento.
O conteúdo das fichas é reavaliado com periodicidade. O último modelo, por exemplo, foi resultado do trabalho conjunto entre os técnicos da Feac e pedagogos das entidades parceiras, que identificaram novas características para observação. "As fichas não são utilizadas como um fim. Não é um processo avaliativo, mas de acompanhamento das crianças. Identificar o locus do atraso permite que se estimule a correção, contribuindo para o direito de ensino da criança e para a melhoria contínua do processo de aprendizagem", explicou Cláudia Chebabi Andrade, gerente de Programas da Feac.
Desenvolvendo parcerias
Criado em 2017, o projeto foi inspirado na política pública Primeira Infância Melhor (PIM), da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, que concebe a educação a partir de um olhar ampliado sobre a própria constituição do sujeito, suas necessidades e direitos. Outra referência é a abordagem Pikler, que defende o vínculo, a autonomia e o conhecimento como bases do desenvolvimento infantil.
Com um ciclo de dois anos, o programa reuniu cinco entidades parceiras, em 2017, atendendo 451 crianças. No ano seguinte, foram 1.500 crianças atendidas e 21 entidades parceiras da Feac. Em 2019, 24 entidades participaram.
De acordo com a fundação, as instituições parceiras são orientadas a, por meio de uma observação fundamentada, atuarem de maneira individualizada e em parceria com as famílias, reconhecendo pontos fortes ou abordando fatores de risco que impeçam o pleno desenvolvimento da criança.
"Convidamos nossas parceiras a terem um novo olhar em relação à criança. As educadoras utilizam as fichas, que contêm os marcos de desenvolvimento, e, por meio de observação e registro, conseguem acompanhar de perto vários aspectos que fazem parte deste processo de mudanças pelo qual a criança a”, disse o superintendente da Feac, Leandro Pinheiro.
O programa começa a partir da identificação da entidade, que recebe a visita dos técnicos da Feac. O segundo o é a sensibilização da escola para o projeto, apresentando o desenvolvimento infantil, os parâmetros da Base Nacional Curricular e o porquê de acompanhar o desenvolvimento das crianças.
Depois, a instituição começa a fase de acompanhamento, com o conhecimento da organização; a apresentação das fichas de acompanhamento, sua importância, a maneira de preenchê-la e fazer o diagnóstico; e o foco no plano de aula. Por fim, a Feac faz um assessoramento remoto, chamado de "fase out", quando a escola dá continuidade ao programa.
Social e humano
A fundação é uma instituição independente formada há 55 anos e autossustentável. Ela oferece projetos à sociedade com foco na promoção humana e no bem-estar social, especialmente no período da infância e da juventude, sem exigir contrapartida de seus parceiros.
De 2017 a 2019, a Feac já investiu cerca de R$ 850 mil em ações no projeto. Entre as atividades de assessoramento oferecidas, está a análise dos dados das fichas de acompanhamento, de forma a ensinar as instituições a chegarem a um diagnóstico. As fichas, no entanto, não ficam com a Fundação e não são utilizadas, em nenhuma hipótese, como material de comparação entre as instituições.
Para o futuro, os desafios incluem a implantação de um sistema que automatize a resposta às escolas e acelere o e as adaptações, incentivando a integração dos ciclos educativos. Além disso, a fundação quer apresentar o projeto a outras organizações sociais civis e buscar uma parceria com a prefeitura. "A melhor forma de fazer incidência em política pública é por meio do exemplo", afirma Leandro Pinheiro, o superintendente da Feac.
Da seleção à disseminação
Promovido pelo CNJ como parte do Pacto Nacional pela Primeira Infância, a chamada pública de seleção, premiação e disseminação de boas práticas na primeira infância entregou certificados a entidades responsáveis por iniciativas em quatro categorias — Sistema de Justiça, Governo, Empresas e Sociedade Civil Organizada. Nesta última categoria, além de troféu e certificado, os vencedores receberam valores monetários de R$ 20 mil, R$ 15 mil e R$ 10 mil, para os três primeiros lugares, como incentivo à disseminação das boas iniciativas.
Em 22 de junho de 2020, o CNJ também iniciou um fórum online para disseminação das 12 práticas vencedoras e outras três selecionadas. O espaço virtual é voltado aos profissionais do Sistema de Justiça, de órgãos públicos e da sociedade civil que atuam com a primeira infância e pessoas interessadas no tema. Com informações da assessoria de imprensa do CNJ.
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