Crédito de carbono é o futuro, mas deve abraçar questões sociais
2 de agosto de 2023, 10h19
O comércio de crédito de carbono é o caminho para a sustentabilidade ambiental, mas que só vai se concretizar caso haja um ciclo que inclua demandas socioeconômicas. O processo de descarbonização pode ser uma alavanca de distribuição de renda e de empoderamento social, mas também pode, caso não seja bem estruturada, servir de incremento às desigualdades, acumulando riquezas nas mãos de poucas pessoas.

A discussão teve a participação do ministro Mauro Campbell, do Superior Tribunal de Justiça, que lembrou que a questão da sustentabilidade focada na descarbonização já vem sendo discutida desde o Protocolo de Kyoto, ganhando maior destaque com o Acordo de Paris.
"Sem dúvida alguma, o caminho para a sustentabilidade ambiental no mundo é o comércio de crédito de carbono. Agora, peço que também se inclua a fixação de um círculo virtuoso nessa economia, sob pena de nós estarmos enriquecendo novamente uma plêiade de fazendeiros, empresários e latifundiários, deixando à margem disso, milhões de brasileiros."
Governador do Tocantins Wanderlei Barbosa destacou que o surgimento do chamado Matopiba (região de agronegócio que compreende o Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) lançou luz sobre a necessidade de aumentar o debate sobre sustentabilidade no estado. Ele ponderou que, por se tratar da unidade da federação mais nova, o Tocantins tem condições de fazer frente no trabalho de recuperação ambiental.
"Mas o agronegócio tem crescido. Não dá para fechar os olhos para isso. É uma indústria que chegou ao nosso estado e destruiu as rodovias, porque os caminhões cresceram de 15 e 20 toneladas para 70. As estradas não aguentam. Dessa forma, nós estamos vivendo e trabalhando para que se possa associar a geração de oportunidades à sustentabilidade que nós buscamos."
A senadora Margareth Buzetti (MT-PSD) disse que o grande compromisso público que o mercado de carbono tem no Brasil é regulamentar um projeto de lei que vem sendo debatido no Congresso Nacional. "Esse projeto deve atender, no meu pensamento, três grandes pilares e ideias. Primeiro, a convivência do mercado regulado e voluntário, que é o modelo que já deu certo na Europa, na Califórnia e Austrália. Não precisamos inventar nada. Nós podemos copiar o que dá certo. Segundo, um modelo que permite ao Brasil ser exportador de crédito de carbono, trazendo receitas para as empresas e Estado brasileiros. Por fim, um modelo que permite a monetização da nossa floresta em pé, com a aceleração das cadeias econômicas da bioeconomia."
Desembargador Federal do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6), Flávio Boson Gambogi afirmou que uma economia de baixo carbono é uma premissa da qual não é possível fugir. "Isso já é básico, sedimentar, algo que já está posto. Nós temos que entender como reorganizar a nossa economia de forma a produzir um desenvolvimento que a gente chama de crescimento sustentável, apoiado nesse novo mercado, nessa nova realidade e necessidade permanente de descarbonização."
Indo além das discussões econômicas, a diretora jurídica da Cosan S.A., Maria Rita Drummond, disse que o processo de descarbonização oferece uma oportunidade para maior participação de mulheres, levando à possibilidade de igualdade de gênero. Ela citou estudos que apontam que mulheres são as mais são afetadas pelas mudanças climáticas. "Transição energética a por uma maior representatividade feminina em cargos de liderança para que a gente possa ter uma sociedade mais justa e equilibrada", diz.
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