Carlos Bolsonaro recebia informações da Abin sobre investigações em andamento
29 de janeiro de 2024, 8h37
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, autorizou operação de busca e apreensão contra o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro, filho do ex-presidente Jair Bolsonaro, no curso das investigações sobre espionagem ilegal dentro da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).

Segundo relatou a Polícia Federal ao ministro do Supremo, Carlos recebia da Abin informações sobre investigações em andamento na própria PF envolvendo integrantes da família Bolsonaro. Os dados seriam reados pelo ex-diretor da Abin Alexandre Ramagem.
Os mandados de busca e apreensão foram cumpridos nesta segunda-feira (29/1) na casa de Carlos Bolsonaro, em seu gabinete na Câmara Municipal do Rio e na casa de praia da família do vereador em Angra dos Reis (RJ).
“Nesta representação específica, ressalta a autoridade policial a identificação do núcleo político, composto por Carlos Nantes Bolsonaro, Luciana Paula Garcia da Silva Almeida e Priscilla Pereira e Silva, que, em conjunto com ações do Núcleo Alta Gestão-PF, sob o comando de Alexandre Ramagem, monitorou indevidamente ‘inimigos políticos’ e buscou informações acerca da existência de investigações relacionadas aos filhos do então presidente da República Jair Messias Bolsonaro”, diz Alexandre na decisão.
Luciana Almeida é assessora de Carlos Bolsonaro. Priscilla é ex-assessora de Major Vitor Hugo, que até o final de 2022 era líder do governo de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados.
O núcleo político identificado pela PF também atuaria para monitorar desafetos políticos, como Hugo Ferreira Netto Los, responsável por operações de fiscalização ambiental do Ibama. Ele acabou exonerado de sua função “em possível represália” às ações de combate ao crime organizado, afirma o ministro na decisão.
O procurador-geral da República, Paulo Gonet, manifestou-se a favor das buscas contra Carlos e Luciana Almeida, mas foi contra a operação em desfavor de Priscilla Pereira por não notar “fato que se impunha como de utilidade manifesta” a justificar a busca.
Com relação a Carlos Bolsonaro, o PGR entendeu que a “providência de busca e apreensão se mostra justificada”, uma vez que há indícios de que informações de inquéritos da PF foram impressos por Ramagem e reados.
Abin
Ramagem foi alvo de operação de busca no último dia 25. A investigação apontou que o ex-diretor da Abin utilizou a agência para espionar autoridades, jornalistas e advogados. A operação foi autorizada por Alexandre de Moraes.
Segundo a Polícia Federal, a Abin monitorou autoridades — entre elas ministros do STF —, jornalistas, advogados e policiais quando o órgão era chefiado por Ramagem. A agência também teria sido usada para vigiar a promotora responsável pela investigação do assassinato da vereadora do Rio de Janeiro Marielle Franco e para elaborar relatórios a favor do senador Flávio Bolsonaro (PL) e de Renan Bolsonaro.
A investigação também aponta o monitoramento do advogado Roberto Bertholdo, que teria proximidade com os ex-deputados federais Joice Hasselmann e Rodrigo Maia, tidos como adversários políticos de Bolsonaro.
“Os policiais federais destacados, sob a direção de Alexandre Ramagem, utilizaram das ferramentas e serviços da ABIN para serviços e contrainteligência ilícitos e para interferir em diversas investigações da Polícia Federal, como por exemplo, para tentar fazer prova a favor de Renan Bolsonaro, filho do então presidente Jair Bolsonaro”, diz Alexandre na decisão.
Uma das linhas de investigação aponta que o próprio Alexandre, além do ministro Gilmar Mendes, também do Supremo, foram monitorados pela Abin durante o governo de Bolsonaro. A PF identificou ainda anotações com conteúdo que buscava associar integrantes do STF à organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
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