Nova ordem mundial e reindustrialização permeiam discussão sobre conflitos
26 de junho de 2024, 15h43
Os atuais conflitos territoriais, em especial os que envolvem a Faixa de Gaza, Israel, Ucrânia e Rússia, lançaram novos desafios para os estudiosos da geopolítica: a ordem mundial estabelecida pela criação da Organização das Nações Unidas no contexto do pós-guerra dá sinais de enfraquecimento, assim como o modelo de globalização comercial estabelecido após os anos 1980.

sobre tensões na Europa e no Oriente Médio reúne especialistas
Essa foi uma das perspectivas discutidas no XII Fórum de Lisboa, na mesa intitulada “Tensões na Europa, no Oriente Médio e na América Latina — Os Impactos Econômicos e Geopolíticos”, mediada pelo chefe de gabinete no Supremo Tribunal Federal e professor do Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa (IDP), Eduardo Granzotto.
“O uso da força no âmbito internacional traz desafios não só para o Direito Internacional, mas também para a economia cada vez mais globalizada. Traz desafios também para o jogo de poder da geopolítica, exigindo respostas firmes de organismos internacionais”, disse Granzotto antes de chamar os primeiros debatedores.
A pauta do debate transitou entre as necessidades de uma nova ordem mundial, tendo em vista a falência de determinados mecanismos de controle de órgãos multilaterais, e as lacunas econômicas expostas com a pandemia de Covid-19, que mostraram a dependência industrial dos países ocidentais.
“A palavra de ordem do momento é a reindustrialização do chamado mundo ocidental, combatendo as fragilidades que foram identificadas durante a Covid-19, onde se identificou que as máscaras e os respiradores eram fabricados fora desse mundo ocidental”, disse Agostinho Costa, major-general de Portugal e mestre em Relações Internacionais pela Universidade Lusíada de Lisboa.
“Como fator agravante entramos em uma antagonização com a China, que para a UE ou a ser um parceiro comercial.”
Ele citou que, hoje, as guerras transbordam questões meramente territoriais, e que há sempre de se olhar para estes conflitos também com a perspectiva econômica. “Os recursos minerais da Ucrânia somam US$ 3 trilhões, sendo que metade deste território está em poder dos russos. Este conflito também é sobre ‘follow the money‘”, como dizem.
Ainda sobre a Ucrânia, sentenciou: “O conflito da Ucrânia será o principal catalisador da mudança, terá um impacto na União Europeia. Poderá traduzir um colapso nas instituições.”
Comunicação é tudo
O professor de Estudos Brasileiros da King’s College London, Vinicius Carvalho, afirmou que um dos pontos que mais se alteraram desde a Segunda Guerra Mundial foi a velocidade da comunicação, e que isso transformou a forma como enxergamos os conflitos.
“No contexto que nós vivemos hoje, em um contexto de globalização, é muito difícil separar isso. Os conflitos estão interligados, e é impossível tratar de um independentemente do outro”, disse.
“Se pmos em perspectiva o que foi a Segunda Guerra em termos de comunicação e mobilização, forças e tropas e etc, o tempo é hoje muito mais rápido. A capacidade de comunicação é imediata, tudo isso levou a uma dinâmica desses conflitos se tornarem mais rápidos neste desenrolar e com consequências em um aspecto mais amplo, socialmente falando.”
Ele disse que houve uma intensificação da globalização em certos aspectos, e que isso agravou determinados conflitos. “Não é porque houve redução da globalização, mas a verdade é que a gente acentuou isso para um nível muito maior. Consequentemente, essas tensões se agravam também.”
O professor da Universidade Autônoma de Lisboa e ex-secretário-geral do Partido Socialista de Portugal, António José Seguro, disse que esse contexto de mudanças nas estruturas econômicas globais fez com que autocracias ganhassem força, tendo em vista que esses regimes perceberam que não precisariam se adequar a valores democráticos e de direitos humanos para se desenvolver.
“As autocracias descobriram que não precisavam se transformar em democracias para cresceram economicamente”, disse.
“O desempenho da China confirma o que acabamos de afirmar, aparentemente o fator explicativo do crescimento econômico parece estar mais associado à estabilidade política e à qualidade dos governantes, e menos à natureza dos regimes políticos. Está é uma das razões que explicam um certa queda do prestígio do regime democrático e a sua capacidade de alteração na escala global.”
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