Criadores da KaBuM! tentam retirar pai de Luciano Huck de arbitragem contra Magalu
31 de janeiro de 2025, 17h56
Os dois irmãos fundadores da plataforma de comércio eletrônico KaBuM! acionaram a Justiça de São Paulo nesta semana para contestar a participação do árbitro indicado pela varejista Magazine Luiza no processo de arbitragem envolvendo as empresas. Os empresários alegam falta de independência e de imparcialidade do árbitro Hermes Marcelo Huck, devido à proximidade de seu filho, o apresentador de televisão Luciano Huck, com a família Trajano, controladora da Magalu.

Criadores da KaBuM! alegam que apresentador, filho do árbitro nomeado pela Magalu, é próximo da família Trajano
A KaBuM! foi adquirida pela Magalu em 2021, em uma operação assessorada pelo banco Itaú. Os criadores da plataforma permaneceram no comando do negócio, mas foram dispensados em 2023. Em seguida, apresentaram o procedimento arbitral no Centro de Arbitragem e Mediação da Câmara de Comércio Brasil-Canadá (CAM-CCBC).
O objetivo dos irmãos é anular a venda, por suspeitas de que o Itaú agiu de forma conflituosa e com participação da própria Magalu. Eles alegam que o banco sabotou propostas e negociações de outros interessados. A intenção era que houvesse, de forma paralela, uma oferta de ações da varejista, que teria ajudado a pagar a aquisição.
Outro argumento é que o diretor de fusões e aquisições do Itaú, responsável por liderar as negociações para venda da KaBuM!, é cunhado, melhor amigo e parceiro de negócios de Frederico Trajano, diretor-presidente da Magalu. Trajano também era membro do conselho de istração do banco. Além disso, o Itaú e a varejista são sócios em uma financeira que oferece serviços em todas as lojas da Magalu.
A varejista indicou o advogado Hermes Marcelo Huck para compor o tribunal arbitral. Os fundadores do e-commerce contestaram a nomeação, com a alegação de que Luciano Huck tem “ampla influência e estreita relação” com a Magalu.
Proximidade
Segundo a defesa, Luciano é próximo de Frederico Trajano e sua mãe, Luiza Trajano, que é presidente do conselho de istração da varejista.
Hermes não renunciou à posição. O pedido de impugnação foi submetido a um comitê especial e negado. Por isso, os empresários apresentaram a ação judicial, que solicita a anulação da decisão do comitê.
A petição inicial explica que a Magalu é patrocinadora do programa “Domingão”, da TV Globo, apresentado por Luciano. Propagandas da varejista já foram exibidas no programa.
O apresentador também já participou de um evento sobre empreendedorismo organizado pela Magalu e apresentou outro evento da varejista voltado a anunciar suas promoções.
“Luciano Huck foi a ‘cara’ de diversas investidas de marketing por parte do Magazine Luiza”, diz a defesa. “Pode-se dizer que Luciano Huck é o garoto-propaganda do Magazine Luiza.”
Os advogados ainda lembram que Luciano foi “fortemente cogitado” para concorrer à Presidência da República em 2024 e que Luiza intermediou diversas conversas entre o possível candidato e setores empresariais, como uma espécie de “conselheira”.
Por fim, a defesa ressalta que o escritório de Hermes advoga para o Itaú há mais de 20 anos, inclusive em uma ação na qual o banco é réu ao lado da financeira controlada em parceria com a Magalu.
Arbitragem conturbada
Pouco mais de um ano e meio depois de ser protocolado, o processo no CAM-CCBC ainda não avançou devido a diversas turbulências relacionadas à composição do tribunal arbitral.
Uma primeira composição chegou a ser formada, mas os criadores da KaBuM! alegaram que a então árbitra presidente não revelou fatos que deveria ter revelado. Em maio do último ano, todos os membros renunciaram.
As partes, então, indicaram novos árbitros. A Magalu impugnou o árbitro indicado pelos irmãos e ele foi substituído. Os empresários fizeram o mesmo com Hermes, o árbitro indicado pela varejista, e agora tentam fazer valer sua contestação no Judiciário.
Processo 1009465-36.2025.8.26.0100
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