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Como a suspensão dos vistos estudantis por Trump afeta brasileiros

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8 de junho de 2025, 8h16

As entrevistas para novos vistos de estudantes que pretendem se mudar para os Estados Unidos foram suspensas pelo presidente Donald Trump em todo o mundo.

A medida vem na esteira da proibição de matrícula de estrangeiros que o presidente impôs à Universidade de Harvard, atualmente anulada por uma decisão judicial. O Departamento de Imigração justificou que a suspensão vale até que o governo aprimore o sistema para análise das redes sociais dos candidatos.

aporte americano em cima da bandeira dos Estados Unidos

Governo Trump proibiu novas entrevistas para estrangeiros que querem visto de estudante

Por enquanto, isso faz com que o país deixe de ser uma opção viável para estudantes brasileiros que ainda não têm o visto, de acordo com um especialista consultado pela revista eletrônica Consultor Jurídico. Quem já tem os vistos das categorias F (voltado a estudantes de faculdades e universidades) M (escolas de negócios ou cursos técnicos) e J (intercâmbio) no aporte não será afetado.

“Para os brasileiros que possuem o visto de estudante normal, não muda nada. Quem já possui vistos para estudar em faculdades e universidades, entre elas Harvard, pode ir e voltar sem problemas dos Estados Unidos”, explica Guilherme Vieira, advogado especialista em imigração.

Entretanto, a maioria dos estudantes teme voltar para os países de origem e ter problemas para retornar para os EUA. As férias acadêmicas nos Estados Unidos começam no final de maio e terminam entre o fim de agosto e o começo de setembro.

Nesse intervalo, os estrangeiros costumam sair do país para visitar a família. De acordo com o advogado, mesmo com as novas restrições, nenhuma retaliação deve acontecer para quem já tem o visto.

De olho nas redes

Vieira esclarece que o processo de deportação pode ocorrer a qualquer imigrante que violar as leis dos Estados Unidos, mesmo os que têm green card e situação regular.

“O green card e os vistos não são direitos dos imigrantes, são benefícios que os Estados Unidos concedem. Então, eles podem retirá-los a qualquer momento, quando entendem que aquela pessoa não está cumprindo com alguma das leis do país”, diz Guilherme Vieira.

O que tem acontecido, entretanto, diz o advogado, é a revogação desses benefícios por conta de postagens nas redes sociais. Postagens enaltecendo crimes, facções ou antissemitismo contrariam as diretrizes governamentais da gestão Trump, ainda que o país tenha uma regra consolidada sobre liberdade de expressão.

Desde 2019, a análise das redes sociais é um requisito obrigatório para a concessão do visto. Mesmo quem já foi aprovado no processo pode ser observado depois, já que o governo mantém os links para as redes no cadastro.

A política está prevista no DS-160, formulário de aplicação para vistos de não imigrantes e alguns residentes permanentes.

“Isso já acontecia. Só está sendo mais falado agora porque ficou público com as novas medidas. Se o aplicante não fornecer os links corretamente e a imigração encontrar alguma rede social, é fraude imigratória, porque essa pessoa deixou de prestar uma informação importante para ser verificada pelos oficiais”, diz o advogado.

A finalidade, segundo Vieira, é monitorar o perfil da pessoa para saber seu estilo de vida pessoal e profissional. Outra questão observada pelo governo, por meio das redes sociais do solicitante, é se a pessoa tem o tipo de qualificação e renda necessária para o visto que está pedindo.

Poder de barganha

Guilherme Vieira analisa que o objetivo de Trump com as restrições é ter poder de negociação com outros países, para que acordos futuros saiam exatamente como ele quer.

“Mesmo que ele sangre algumas coisas que prejudicam os Estados Unidos e seus cidadãos de forma temporária, ele quer usar isso nos termos de negociação para que ele ganhe sempre, como ganhava lá atrás com as empresas dele”, diz.

O advogado acredita que a medida não deve durar muito tempo, porque ela prejudica as universidades — cujo maior patrocínio vem das mensalidades de estudantes estrangeiros — e, consequentemente, o país como um todo.

“O próprio governo e as faculdades dependem financeiramente desses estudantes estrangeiros. Também tem a questão da mão de obra, seja de cientistas, seja de outras pessoas que dão e e fazem parte da história dessas faculdades, que contribuem com pesquisas e referências profissionais. Tem imigrantes que estudaram em Harvard e que ganharam o Prêmio Nobel. Os Estados Unidos perdem muito com isso e, todos, em nível global, também perdem”, afirma Vieira.

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