O assassino assassinado, estuprador estuprado e a justiça
25 de abril de 2025, 11h25
Esteliano era o nome do indivíduo que abordou, estuprou (ou tentou estuprar) uma jovem nas proximidades da Cidade Universitária (USP). Tudo indica que se tratava de um criminoso de ocasião, ou, em termos mais simples, um chulé, que agia sozinho, talvez usando uma faca, e se aproveitava do que chamamos de relação de oportunidade. O nome Esteliano se nos parece inédito, nunca ouvi antes, já estelionatário é um indivíduo que vive da prática de golpes (em termos populares, não cabe discutir as características do crime neste momento, artigo 171 do Código Penal). O termo vem do latim “stelio” que, conforme a literatura criminal, se refere a um lagarto que vive a se camuflar para atacar insetos e fugir de predadores.
Não penso que se tratava de um bom prenúncio. A abordagem que Esteliano fez da vítima, ela no auge da sua juventude, foi parcialmente filmado por câmeras de segurança. Hoje em dia, celulares e câmeras difundidos como equipamentos essenciais, permitem a gravação de cenas impensáveis, quem leu Foucault sente um frio na espinha, mas, no geral, ainda não vemos uma sociedade de vigilância opressiva à Orwell e seu Grande Irmão, podemos estar indo para tal destino, mas, ainda, não. Partindo de tal gravação, iniciaram-se as investigações, serviço bem-feito, identificação feita em pouquíssimo tempo, uma à zero para a Polícia Civil. A prisão era questão de tempo. Esteliano não tinha muitos recursos para fugir. O que não se sabia era que havia alguém mais na corrida. Algum grupo que, estruturado, conhecedor das mazelas e do crime naquela região, facilmente pôde descobrir quem era o malsinado assassino. Isto, na verdade, é muito simples.
Dentro do mundo da marginalidade existem relacionamentos também, o criminoso precisa vender o que rouba, usa drogas, atua em um lugar específico (principalmente quando há uma relação de oportunidade, como um local ermo e em horário noturno, como este caso), é um predador na caça de uma vítima. É como um aquário, em geral os peixes sabem onde os outros estão. O crime sexual causa repugnância neste meio. A razão não é tão óbvia. Ninguém pensa na vítima, a criminalidade teme, em verdade, que estando presos seus familiares, mães e irmãs, possam ser alvos da sanha que eles bem conhecem porque em outro grau fazem parte desta selva de maldades. Os parentes se sentem amedrontados, o impacto não é nada bom, a ação foi de um solitário (não digo lobo solitário porque para tanto se exigiria inteligência). Bate pronto no celular, ordem para os irmãos. Peguem quem foi.

Márcio Sérgio Christino, procurador
Esteliano estava escondido sabe Deus onde, mas, em geral, se escondia da polícia. Foi achado. Torturado (segundo a imprensa, além de esfaqueado no tórax e abdômen sofreu lesões anais) e depois o tiro na nuca, o conhecido “confere” que dá certeza da morte. Depois o corpo foi amarrado, envolvido em uma lona ou coberta e jogado em uma avenida. Isto implica em reconhecer que o ato foi praticado por um rupo, com recursos, entre eles carro, material para “embalar” o cadáver, local para que a tortura fosse feita sem chamar a atenção, e teve um toque profissional, o tiro na nuca, coisa e quem é do ramo.
O “modus operandi” se assemelha ao que denominamos “Tribunal do Crime”, um julgamento feito pelo PCC, a sentença também parece afeita ao modo como criminosos deste tipo são tratados no presídio, assim o dizem as lesões anais mencionadas pela imprensa. Seja como for, caso encerrado, o assassino assassinado. Fim. Agora, vem a pergunta que não quer calar, este desfecho te agradou? Foi merecido? O PCC (como se suspeita) agiu bem? Isto significa que o PCC ganhou legitimidade com esta ação? Oficialmente a conduta é severamente reprovada, agora, intimamente, parece que nem tanto. Para pensar.
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